sexta-feira, abril 30, 2010
Vivendo de outras vestimentas
domingo, dezembro 27, 2009
O meu vício em romances ingleses obscenos
“Ergueu o vestido de Constance acima dos seios e os beijou suavemente, sugando os bicos retesados.
-- Ah, Que bom, como é bom! – murmurou de súbito, esfregando o rosto em seu ventre com prazer.
Constance passou o braço ao redor do corpo dele, sob a camisa; mas tinha medo daquele corpo esbelto, liso e nu, que parecia tão possante; tinha medo de seus músculos violentos. Tinha medo.
Quando ele lhe disse, quase num suspiro, “Como é bom!”, qualquer coisa em Constance arrepiou-se e qualquer coisa em seu espírito retesou-se, pronta para a resistência – resistência àquela terrível intimidade física e à pressa de posse do macho. E dessa vez não se atordoou no êxtase agudo de sua própria paixão. Permaneceu alheia, com as mãos inertes ao redor do corpo do homem em movimento; e, por muito que fizesse, não podia evitar que seu espírito analisasse com frieza o que se ia passando; o movimento de vaivém daquelas coxas lhe parecia grotesco, como lhe pareceu risível o frenesi do pênis afobado ao chegar à sua pequena crise de ejaculação. O amor, então, aquilo? Aquele sobe-e-desce de nádegas? Aquele entra-e-sai do pobre pênis pequenino, insignificante, úmido? Amor, o divino amor! Afinal de contas, os modernos tinham razão em seu desprezo por essa comédia, porque aquilo era uma comédia. Bem dizia o poeta: “O Deus que criou o homem devia ter um sinistro senso de humor, para fazer dele uma criatura de razão e ao mesmo tempo obrigá-lo a essa postura grotesca – e também impeli-lo a, cegamente, desejar tão ridícula comédia.”
Frio, irônico, seu curioso espírito de mulher ficava alheio àquilo e, embora se conservasse perfeitamente imóvel, seu instinto a impelia a se erguer, escapar do homem e fugir àquele braço e às estocadas de pilão das ridículas ancas que a cavalgavam. Aquele corpo de homem era uma coisa absurda, desagradável, inacabada, impudente, grosseira. Quando a humanidade fosse mais evoluída, teria de suprimir tal comédia, eliminar semelhante “função”.
E, apesar disso, quando Mellors acabou e ficou em cima dela, tranqüilo e silencioso, num afastamento estranho, longe, tão longe dela, Constance começou a chorar em sua alma. Sentia-o refluir, refluir para longe dela, e abandoná-la como um seixo na praia. Mellors retirou-se, abandonava-a
-- Dessa vez falhou – disse ele. – Você esteve ausente.
Ele havia percebido! E ela chorou mais forte.”
Página 211-212, O amante de Lady Chatterley – D. H. Lawrence.
terça-feira, dezembro 15, 2009
Falsa Valsa
Tu confundiste os murros que dei na tua porta com a tua música que atingia, inclusive, os ouvidos do mendigo da calçada em frente à tua janela. Então, a cena: tu dançavas a valsa da vida enquanto eu socava a porra da madeira que impedia os meus olhos de se estenderem ao desatino dos teus.
Desde o primeiro momento em que eu resolvi te reparar, tua face pálida já condenava o teu sangue deficiente & opaco. Contudo, eu tenho o costume repulsivo de investigar o que excita o meu ódio. A faculdade da razão é condecorada somente nas situações em que a possibilidade de transgressão adverte o maior perigo. Fora esta condição, viver não passa de um acaso desmerecido. Em outras palavras, eu sinto fome da tua falta de fome. Construo uma pré-realidade, que não pode ser entendida invenção por justamente ser capaz de me saciar os ânimos como se numa sublimação, ao sonhar o pincel revelando a mentira do teu sistema nervoso.
Quero te ver ruborizar inteiro mesmo que para isso eu tenha que cometer o ato pueril de atribuir à tinta guache a função de sangue vivo. No entanto, guardei esta pré-realidade embaixo do travesseiro das insônias porque, escuta bem, já faz um tempo que o vermelho escorre das minhas mãos
Eu queria fazer brotar na tua pele a sensação de incêndio. Eu queria que tu sentisses todas as realidades fincadas na tua cólera de se saber vivo. Porque viver dói, meu amor. Não se dança a valsa da vida, dança-se a falsa vida que nos toma entorpecendo os detalhes reais. E eu não sei mais sobre o que escrevo. Peço, por fim, que tu desculpes a minha coragem de ser & que tu continues infiltrado na tua música ensurdecedora. Guardarei o pré-amor por ti junto à pré-realidade: embaixo do travesseiro das insônias.
quinta-feira, novembro 12, 2009
segunda-feira, novembro 09, 2009
E se tu me (...)
sexta-feira, setembro 25, 2009
Catarse & Catarro
terça-feira, setembro 15, 2009
Reconhecimento do amor
Charm'erda
quinta-feira, setembro 10, 2009
Sonhei com a Lou
Lou Salomé, Paul Rée e Nietzsche
quinta-feira, agosto 13, 2009
Café derramado
sexta-feira, julho 31, 2009
No copo, água mineral fluoretada e litinada ao invés de.
Terça-feira, 29 de Julho de 2008
Incompatibilidade de Gênios
quinta-feira, julho 09, 2009
Envelope eletrônico para Luís Lima
quinta-feira, julho 02, 2009
2 & 3
sexta-feira, junho 12, 2009
De mim
domingo, maio 31, 2009
Outra Carta ao Absurdo
A castidade com que abria as coxas
sábado, abril 11, 2009
Eco
sábado, abril 04, 2009
Sobre Verborragia Paralítica
segunda-feira, março 09, 2009
Tanto Teto Tudo Tato
terça-feira, março 03, 2009
Lavanderia
segunda-feira, fevereiro 16, 2009
Quando bate o eco mudo na cidade
quinta-feira, fevereiro 05, 2009
A língua é um pincel
segunda-feira, janeiro 12, 2009
Operação Israelense
terça-feira, janeiro 06, 2009
Para Mariana, a Dona dos meus sentimentos morenos
domingo, janeiro 04, 2009
Jukebox '09
quarta-feira, dezembro 31, 2008
Toma os teus ponteiros
quarta-feira, dezembro 10, 2008
Hoje é dia de Clarice, 10 de dezembro de 1920
Pneumotórax
terça-feira, dezembro 09, 2008
Birds of Paradise
segunda-feira, dezembro 08, 2008
Conteúdo fônico descomplicado p'ro Benzinho
domingo, novembro 30, 2008
4 horas & estômago: mais um ensaio
segunda-feira, novembro 17, 2008
Catatonismo
sexta-feira, novembro 14, 2008
O Retrato dos Hojes
terça-feira, novembro 11, 2008
Aconteça
Nosso tempo
quarta-feira, novembro 05, 2008
A maçã
De modo furtivo, intervindo violentamente a idealização da minha estréia em plena decadência do ano 08, resolvo a lobotomia paranormal. O complemento na nominação dada à intervenção cirúrgica, estreante aos ouvidos igualmente, deve-se ao fato de não se tratar aqui da cura para a esquizofrenia, os delírios ou mesmo as alucinações. É de caráter antagônico a causa: versa-se sobre o ganho de um banho de realidade desmedida quando se impera a boçalidade em desconhecer o ralo mais próximo. Então, a secção é feita entre o real maciço e a ignorância de executar o fim, isto é, fazer uso do crivo da moral. A paranormalidade entra quando a massa do real se esvai. Afinal, a esperança é justamente a falta de competência para finalizar, sendo esta a fome escandalosa de vida que corrói as entranhas. Perdendo de vista todo o assunto verdadeiro que engolfa, ficarei com a esperança intacta: a peneira não me fará sucumbir à moralidade. Eis a cura. Dormir para acordar e acordar para dormir - e assim sucessivamente - só enquanto o piano não despenca no centro neural. É como ter a maçã e a iminência do pecado. Ser amoral incansavelmente durante todo o processo da existência por ganância à liberdade. E, depois, com tamanha câimbra por suportar o vazio do crivo – feita a lobotomia paranormal já descrita -, aplicar o conto-do-vigário; cuja ação se resume, de maneira exclusiva neste caso, a mergulhar em autenticidade ao contrário de banhar-se de. A partir disso, a estréia. Para ser vigarista há de ser moralista. É exatamente neste momento que a queda do piano acontece. Eis a saga do princípio do prazer & as curas temporárias. Tome esta maçã! Pequemos até o apocalipse!