''O seu coração tremeu; a sua respiração tornou-se mais apressada; e um espírito selvagem passou por sobre os seus membros como se ele fosse escalar o sol. O seu coração tremia num êxtase de medo e a sua alma estava num vôo. A sua alma estava alando ar acima para lá do mundo, e o corpo, sabia ele, estava purificado por um sopro, libertado da incerteza e se tornara radiante, diluído no elemento mesmo do espírito. Um êxtase deslumbrado de vôo tornava radiantes os seus membros arrebatados pelo vento. (...) A sua garganta ardia com a vontade de gritar, alto, o grito dum falcão ou duma águia pela altura. Gritar, arrebatadoramente, a sua libertação para os ventos. Esse era o chamado de vida para a sua alma! Não a voz grossa e brutal do mundo dos devedores e do desespero; não a voz inumana que o tinha chamado para o serviço incolor do altar. Um instante de selvagem vôo o tinha libertado, e o grito de triunfo que os seus lábios tinham retido retumbou no seu cérebro fendendo-o:''
Página 189, O Retrato do artista quando jovem - James Joyce