terça-feira, outubro 07, 2008

Brainstorming

uma das garrafas de cerveja da última quinta se porta esguia em cima do rack de madeira pálida, na estante deste mesmo móvel o copo seco e fundo que antes amargo até a boca faz o favor de nutrir as poeiras d'A hora dos assassinos - Miller inquilino de Rimbaud - com seus ares fungosos, uma outra garrafa ainda de quinta está posicionada ao lado do lixo, que virado, espalha uns bons seis maços raquíticos de cigarros no chão que é madeira envelhecida, a última garrafa que não foi junto à leva de cervejas amarroadas para a fila da pia da cozinha na tentativa quase planejada de purificar o quarto também de uma ressaca que viria está encostada à cama, com um travesseiro leve leve pluma leve pousa limpando-lhe o gargalo, supostamente caído na noite mal dormida de quinta para sexta, uma outra garrafa, mas de saquê e, bem, essa é de sábado, fica próxima ao meu cotovelo esquerdo enquanto digito e páro, modifico o perfil observando o fim do império do meu quarto tão romântico, decadence avec elegance, procurando na janela a noite que perdi por afagar a inquietude nada produtiva por capricho da insônia, então volto a atenção à tela do note sacando o meu vacilo de não citar a xícara com muito sal que tampa justamente o valor da conta de telefone do mês passado que, poxa, venceu há seis dias, e por falar em ligações, quis tanto te ouvir gaguejar em destrambelho pelo ímpeto pulsional de apertar a tua combinação numérica e balbuciar a poesia que é tua e que já é quase um fóssil no meu sistema límbico pois costumo suspender o objeto libidinal a todo custo no disco imperturbável de pensamentos avulsos, como o de onde é que está o cigarro?, agora preso aos lábios, mas e o isqueiro?, ao lado da rolha do carbenet sauvignon de domingo, cuja compra se deu por acaso porque, juro, eu fui mesmo ao mercado só para comprar milho para a pipoca e para a sessão calos de amor com Natural Born Killers e, enfim, o cigarro chegou no filtro e preciso sim jogar as bitucas, as guimbas, as cinzas fora para que seja apagado com soquinhos delicados de dedos no fundo do cinzeiro, diferentes dos socos que deveriam partir do sono em direção certeira ao meu cansaço de ser tão prolixa às seis da manhã da terça de mais outra semana que me acompanhará a vida-a-vida com mais outras garrafas, que decerto se estacionarão em cantos sábios desse meu ambiente, me fazendo perder a coerência para decorar os sentidos como o de concluir que o copo americano com resto de café também serve de túmulo ao cigarro que, pobre coitado, apagou sozinho entre os dedos,