segunda-feira, setembro 29, 2008

Eu tropeço na cortina abrindo que é para o espetáculo logo terminar

Like a Amy on the kitchen floor, vou beber e fumar feito louca sem destino nos bares junkies da vida, trepar por puro gozo com os desconhecidos mais íntimos e evitar os calos do amor. Dois mil e oito é o ano da lama, even.

quarta-feira, setembro 17, 2008

Ensaio sobre a cegueira

''O medo voltou, sub-reptício, mal ela avançou alguns metros, talvez estivesse enganada, talvez ali mesmo à sua frente, invisível, um dragão a esperasse de boca aberta. Ou um fantasma de mão estendida, para a levar ao mundo terrível dos mortos que nunca acabam de morrer porque sempre vem alguém ressuscitá-los. Depois, prosaicamente, com uma infinita, resignada tristeza, pensou que o sítio onde estava não era um depósito de comidas, mas uma garagem, pareceu-lhe mesmo sentir o cheiro da gasolina, a este ponto pode iludir-se o espírito quando se rende aos monstros que ele próprio criou. Então, a sua mão tocou em algo, não os dedos viscosos do fantasma, não a língua ardente e a goela do dragão, o que ela sentiu foi o contacto de um metal frio, uma superfície vertical lisa, adivinhou, sem saber que era esse o nome, que se tratava do montante de uma armação de prateleiras.''
Página 221, Ensaio sobre a Cegueira - José Saramago.

sexta-feira, setembro 12, 2008

A junkie romance

Provocada a inconfidência do mal-do-século ao lamber o teu vômito sinestésico para delirar a minha saliva de tanto Joãos e Marias – ou as Joanas -, despertar-te a manhã seca derramando Southern Comfort nos teus lábios. Te comprar o mundo travestido em uísques & vinhos mediadores do nosso rock em all night long. Te consertar o nítido desenhando formas geométricas no teu ventre satírico. A psicodelia de divergir o fim dos heróis folhetinescos na sonoplastia das nossas palmas soerguendo o welcome teatral à nossa morte imatura. Corroer a tua nuca romântica com versos que explicam a guerra entre os mortais e a via láctea dos que se drogam de vida em demasia. Te banhar em água etílica o teu órgão máximo do prazer, te flutuar a madrugada libertina limpando as unhas de uma fuga em pés descalços, te acender o cigarro maldito e te ascender o trono dos meus corações selvagens, te cultuar a rebeldia consentindo a causa tépida de existir sem custódia familiar, te crivar os ópios de cair em tentação, invadir o diáfano e amar em vão. Te beijar a confusão dos baralhos eficientes no que cisma o tempo em seus pseudônimos. Te dar nomes a cada sobriedade anoitecida, te jurar o eterno sórdido no sótão d’alma, te casar a inconstância de pertencer on the road dentro aos valores utópicos. Isso tudo para te vaguear o culto aos gritos num uníssono a dois e mais toda a religiosidade de se prolongar na prosa de outrem.

quarta-feira, setembro 10, 2008

Uma quase terráquea no térreo

Os passageiros do ônibus penetram as minhas cortinas junto ao sopro dos carros que parece deitar em minha cama, ler as pilhas dos livros que coleciono aglomerados à varanda da rede, saborear os meus retratos de memórias de uma condenada com malícia; que parecem vacilar o ritmo da espera enquanto o semáforo diz não e eu nunca. É cair o dia e os carros dançam a valsa fúnebre em uma fileira sem par. Um após o outro: a agonia-dominó dominando os ouvidos do silêncio fora da lei. Os redemoinhos do apartamento do térreo – com exatidão, a quarta janela da esquina de lá para cá – divertindo a cena trivial dos que partem para chegar, dos que vão para voltar, e mais todos os verbos que rimam as pessoas com destino e mosaico sem desfalques. Pensei em alongar a veneziana e empurrar as duas fatias de vidro de modo a não ter vão algum para olho nenhum, mas, se assim feito, os meus cigarros fumados afinco e com muita fome me matariam antes do previsto e, bem, será que posso com mais seis qüinqüênios dessa vida-tromba-d’água?

terça-feira, setembro 02, 2008

Valerie

As carteiras de cigarro me assolam o lixo sem pecado. Como é que o mundo se ocupa nessas horas demais? Se eu permaneço azul & amarela há exatas três porradas de vida - a minha, a tua e a que era para ser dua -, deve a rua dormir e o sorriso ruir. Devem as páginas do meu dicionário sujo tampar o oco de uma podridão que, juro, eu não faço parte nem face. E para os que insistem no porquê de sumir, eu devolvo o para quê aparecer nessa minha inquietude totalitária. As palavras me atravessam a fala inclusive nas madrugadas sem álcool e então travo obliquamente na primeira vírgula,

segunda-feira, setembro 01, 2008

Dois mil duzentos e oitenta e sete

É preciso que eu me renove. É preciso que eu caia somente e tão somente na insanidade de existir sem clemência demente. Sê forte no equilíbrio, me repito. Sê braços na queda diária. Sê suspiro domesticado na corda vestida de impulsos. Sê dança tímida no impacto dos faróis imortais. Sê o novo experiente de rimas não tão plácidas assim. Sê sem ser senão uma sã clássica, todavia de uma sanidade completa da transfusão decorada, aprendida e consignada. Sê significado consciente. Sê corpo que não se desmente. Sê puramente leve. Sê material conciso da mente. Sê o cravo do asfalto. Sê nome sendo, sê só amor.