sexta-feira, setembro 25, 2009

Catarse & Catarro

Com a fúria dos dedos
Quebrei o esmalte cor tomate
No chão de madeira.
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Esfreguei, então, a minha pele
Branca do rosto
& os cabelos ruivos
No catarro sanguíneo da Impala:
..............................................
A cena da glória de um sono letal;
O purgatório das horas maquinadas
À catarse reversa
De mim.

terça-feira, setembro 15, 2009

Reconhecimento do amor

"(...)
Descansei em ti meu feixe de desencontros
e de encontros funestos.
Queria talvez - sem o perceber, juro -
sadicamente massacrar-se
sob o ferro de culpas e vacilações e angústias que doíam
desde a hora do nascimento,
senão desde o instante da concepção em certo mês perdido na História,
ou mais longe, desde aquele momento intemporal
em que os seres são apenas hipóteses não formuladas
no caos universal
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Como nos enganamos fugindo ao amor!
Como o desconhecemos, talvez com receio de enfrentar
sua espada coruscante, seu formidável
poder de penetrar o sangue e nele imprimir
uma orquídea de fogo e lágrimas.
Entretanto, ele chegou de manso e me envolveu
em doçura e celestes amavios.
Não queimava, não siderava; sorria.
Mal entendi, tonto que fui, esse sorriso.
Feri-me pelas próprias mãos, não pelo amor
que trazias para mim e que teus dedos confirmavam
ao se juntarem aos meus, na infantil procura do Outro,
o Outro que eu me supunha, o Outro que te imaginava,
quando - por esperteza do amor - senti que éramos um só.
_______________________________
(...)
Levou tempo, eu sei, para que o Eu renunciasse
à vacuidade de persistir, fixo e solar,
e se confessasse jubilosamente vencido,
até respirar o júbilo maior da integração.
Agora, amada minha para sempre,
nem olhar temos de ver nem ouvidos de captar
a melodia, a paisagem, a transparência da vida,
perdidos que estamos na concha ultramarina de amar."
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In Amar se aprende amando, Páginas 13-15, Carlos Drummond de Andrade.

Charm'erda

Da janela,
o meu nome atravessa.
Da cama,
os olhos acalentam o ambiente externo.
Não vejo nada além
de rua e calçadas devotas ao frio.
Os ninguéns que cantam as sílabas
tão sabidas por mim.
Desisto do destrambelho
que devora os ossos de um búfalo morto.
Viver para quê, pergunto.
Convertem a questão num eco,
tenho então resposta.
Desdizer é tão mais sábio que filosofias de séculos
romantizados anos-luz.
Se eu me chamasse Conceição,
Seria negra & corpo.
Viveria de esquinas escuras
& de circos sem palhaços.
Função: embebedar de porra
As bocas masculinas.
Nunca ser capaz de gestar humano nenhum.
Mas, inclusive, fazer ninho do desespero
Com a coragem desfalecida de rumo padronizado.
Esse hospício que ganha versos
É feito de cidades-estados
De manchetes dos jornais de merda.
Espetáculos dos dinheiros higiênicos!
Que absorvam suas tolas almas
com o humor negro
de uma poesia anacristinacesariana.

Não contavam com a minha astúcia!

Tornei-me também uma Chapolin Colorado:
Sigam-me os bons!

quinta-feira, setembro 10, 2009

Sonhei com a Lou

...e foi como Rilke retratou: "És meu dia de festa. Quando te encontro em sonho, sempre tenho flores nos cabelos”.

Lou Salomé, Paul Rée e Nietzsche