Os passageiros do ônibus penetram as minhas cortinas junto ao sopro dos carros que parece deitar em minha cama, ler as pilhas dos livros que coleciono aglomerados à varanda da rede, saborear os meus retratos de memórias de uma condenada com malícia; que parecem vacilar o ritmo da espera enquanto o semáforo diz não e eu nunca. É cair o dia e os carros dançam a valsa fúnebre em uma fileira sem par. Um após o outro: a agonia-dominó dominando os ouvidos do silêncio fora da lei. Os redemoinhos do apartamento do térreo – com exatidão, a quarta janela da esquina de lá para cá – divertindo a cena trivial dos que partem para chegar, dos que vão para voltar, e mais todos os verbos que rimam as pessoas com destino e mosaico sem desfalques. Pensei em alongar a veneziana e empurrar as duas fatias de vidro de modo a não ter vão algum para olho nenhum, mas, se assim feito, os meus cigarros fumados afinco e com muita fome me matariam antes do previsto e, bem, será que posso com mais seis qüinqüênios dessa vida-tromba-d’água?