quarta-feira, setembro 10, 2008

Uma quase terráquea no térreo

Os passageiros do ônibus penetram as minhas cortinas junto ao sopro dos carros que parece deitar em minha cama, ler as pilhas dos livros que coleciono aglomerados à varanda da rede, saborear os meus retratos de memórias de uma condenada com malícia; que parecem vacilar o ritmo da espera enquanto o semáforo diz não e eu nunca. É cair o dia e os carros dançam a valsa fúnebre em uma fileira sem par. Um após o outro: a agonia-dominó dominando os ouvidos do silêncio fora da lei. Os redemoinhos do apartamento do térreo – com exatidão, a quarta janela da esquina de lá para cá – divertindo a cena trivial dos que partem para chegar, dos que vão para voltar, e mais todos os verbos que rimam as pessoas com destino e mosaico sem desfalques. Pensei em alongar a veneziana e empurrar as duas fatias de vidro de modo a não ter vão algum para olho nenhum, mas, se assim feito, os meus cigarros fumados afinco e com muita fome me matariam antes do previsto e, bem, será que posso com mais seis qüinqüênios dessa vida-tromba-d’água?