quarta-feira, novembro 05, 2008

A maçã

De modo furtivo, intervindo violentamente a idealização da minha estréia em plena decadência do ano 08, resolvo a lobotomia paranormal. O complemento na nominação dada à intervenção cirúrgica, estreante aos ouvidos igualmente, deve-se ao fato de não se tratar aqui da cura para a esquizofrenia, os delírios ou mesmo as alucinações. É de caráter antagônico a causa: versa-se sobre o ganho de um banho de realidade desmedida quando se impera a boçalidade em desconhecer o ralo mais próximo. Então, a secção é feita entre o real maciço e a ignorância de executar o fim, isto é, fazer uso do crivo da moral. A paranormalidade entra quando a massa do real se esvai. Afinal, a esperança é justamente a falta de competência para finalizar, sendo esta a fome escandalosa de vida que corrói as entranhas. Perdendo de vista todo o assunto verdadeiro que engolfa, ficarei com a esperança intacta: a peneira não me fará sucumbir à moralidade. Eis a cura. Dormir para acordar e acordar para dormir - e assim sucessivamente - só enquanto o piano não despenca no centro neural. É como ter a maçã e a iminência do pecado. Ser amoral incansavelmente durante todo o processo da existência por ganância à liberdade. E, depois, com tamanha câimbra por suportar o vazio do crivo – feita a lobotomia paranormal já descrita -, aplicar o conto-do-vigário; cuja ação se resume, de maneira exclusiva neste caso, a mergulhar em autenticidade ao contrário de banhar-se de. A partir disso, a estréia. Para ser vigarista há de ser moralista. É exatamente neste momento que a queda do piano acontece. Eis a saga do princípio do prazer & as curas temporárias. Tome esta maçã! Pequemos até o apocalipse!